
Mulheres que amam gatos nem sempre foram bem compreendidas. A imagem daquela amável senhora que acolhe gatos da rua oferecendo-lhes abrigo, alimento e amor é indispensável não apenas para nossa tranquilidade emocional – que bom que tem gente que se dedica a esses animais! – mas também para a saúde pública: gatos abandonados ficam doentes e por isso são candidatos a transmitir doenças aos seres humanos.
Mulheres que amam gatos: um amor de longa data
Mas há 500 anos, o quadro não era esse. A amável senhora, pelo simples fato de alimentar um gato, poderia ser presa, torturada e levada a arder na fogueira. E tudo isso por causa de um gato? Não, tudo isso por causa do demônio, a neurose coletiva que imperou na Idade Média. O período foi difícil tanto para as mulheres, caçadas como bruxas, quanto para os gatos, “o olho do diabo” que vivia ao lado delas. Não bastasse tanta ignorância, os pobres felinos eram suspeitos de se libertar de sua “máscara” à noite, período do dia em que se nutriam do leite dos seios de sua adorada protetora.
Mas o que aconteceu para que o bichano, sagrado e protegido pelos egípcios em 3.000 A.C, tivesse essa má fama a ponto de ser perseguido e massacrado na Europa dos séculos XIV e XV?
Gatos do demônio
Em um período histórico de muita incertezas e necessidade de proteção, a guerra católica contra antigas religiões e seus cultos pagãos foi o que desencadeou o martírio dos gatos. Presentes em muitas crenças pagãs – e associados à feitiçaria -, quem ousasse levantar a voz em defesa do pobre bichinho teria o mesmo destino dele. Ou seja: na dúvida se era piedade ou adoração da senhora, fogo nos dois. Consequentemente, foi naquele tempo que nasceram superstições que atravessaram séculos até nossos dias, como azar à pessoa que vê um gato atravessar sua frente. Isso porque gatos no vilarejo denunciava bruxaria. Assim, uma simples passagem de um felino sem rumo por um vilarejo podia significar maldição para todos pois o “demônio” rondava seus caminhos.
E fogo no gato.
Para complicar a vida dos gatos, Freyja, uma deusa da mitologia nórdica, era frequentemente representada por uma carruagem puxada adivinha por quem? Pois é, gatos. E Freyja não era uma deusa qualquer. Era a deusa do amor e da cura. Seu palácio era o destino para boa parte dos vikings mortos em batalha, local onde desfrutariam de grandes banquetes e orgias sexuais.
Pronto. Já sobrou para os gatos de novo. Bastou mencionar paganismo e sexo sem regras para acabar com o sossego deles. O fanatismo era tanto que, naquele tempo, na Europa, no dia de Todos os Santos – data importante para a religião pagã -, católicos jogavam na fogueira sacos cheios de gatos vivos. Rumores de que bruxas se escondiam no corpo dessas criaturas do mal exigiam seu trágico extermínio.
As bruxas e os gatos
E a desconfiança não ficou apenas na presença dos gatos. Em função dessa falta de esclarecimento, mulheres acusadas de praticar bruxaria eram as responsáveis por qualquer tempestade, má colheita, enchente ou seca na região. Aí já viu: fogo nas bruxas! E na dúvida de quem tinha a culpa, fogo nos gatos também.
A consequência deste pavor ensandecido foi a quase extinção da espécie na Europa. Contudo, independentemente de mitos e religião, a soberana natureza deu seu troco. E bem dado. Com o número reduzido de gatos, os ratos tomaram conta, e com eles a peste bubônica, doença que dizimou nada menos do que um terço da população humana europeia.
É, matar gatos deu mesmo um baita azar. Mas foi aí que o quadro ganhou novos contornos. A presença deles como aliada à manutenção da vida se deu em nome de uma característica bastante peculiar deles: a caça. Alguém devia caçar os ratos. Quem? Gatos. E foi assim que os ratos salvaram os gatos da extinção.
A humanidade fez as pazes com os gatos
Eliminado o fatídico contexto, o gato do século XXI pode finalmente deixar-se cuidar por essas pessoas que, protegidas pela democracia e pela luz do conhecimento, agora podem colocar em prática suas paixões por felinos. Mais do que recolher, tratar e alimentar os gatos, essas mulheres nos prestam um grande favor: se reconciliam com o nosso passado. Ser solidário à dor de um gato é uma forma de pedir perdão pela nossa arrogância de outros tempos. Gostar e ter afeto por um gato é retribuir o precioso auxílio que a espécie nos prestou contra um mal que quase aniquilou a humanidade, essa mesma que, para nossa imensa vergonha, jogou, sem dó nem compaixão, seus antepassados na fogueira. Então sempre que você tiver a oportunidade, não deixe de dar um carinho em um gato quando ele se enrosca em suas pernas pedindo por isso. Nós, como seres humanos e comunidade, devemos muito a eles.
Amo gatos …Não conhecia essa parte triste da vida de nossos bichano, mas tanta crueldade teve fim graças a Deus hoje eles são muito amados.