Não bastasse tudo o que nós, gaúchos, estávamos enfrentado – vídeos de tristes cenas envolvendo pessoas e animais pipocavam de todos os lugares -, ainda tivemos de digerir outra triste notícia: haviam 38 animais mortos na Cobasi do Shopping Praia de Belas, às margens do lago Guaíba.
A Cobasi deixou 38 animais morrerem dentro de suas gaiolas durante a enchente do RS.
Foi uma notícia devastadora. Nós, veterinários voluntários, recebemos de diversos grupos a cena horripilante dos corpos dos animaizinhos um do lado do outro em cima de uma lona azul. Era impossível não ficar imaginando a morte lenta e agonizante de cada um deles.
Não teve uma pessoa que não quis tocar uma pedra na loja da Cobasi em Porto Alegre. Deu muita raiva, uma raiva tremenda. E a nota divulgada pela Cobasi não poderia ter sido mais infeliz.
A resposta nos surpreendeu mais ainda. Os animais engaiolados da Cobasi foram colocados a uma determinada altura que acreditavam ser suficiente para livrá-los de uma possível inundação. Ocorre que isso, para animais silvestres, não é o suficiente. Quem trabalha com animais, e a Cobasi, que vive da venda deles, devia saber disso, é que pássaros morrem de estresse. Basta colocar um gato circulando uso lado de uma gaiola onde há um pássaro preso para ele literalmente morrer de medo. Sim, animais silvestres morrem de pavor. O coração bate acelerado, eles não conseguem compensar e acabam morrendo.
Ainda que estivessem em ambiente seguro, estariam sem água e sem luz vendo aquela água, sinistra, desconhecida e silenciosa, subir lentamente na direção deles, afogando quem está na gaiola de baixo. Na sequência, gritos oriundos de um pânico absurdo aterrorizam as próximas vítimas, os engaiolados na altura imediatamente superior àqueles que já estão mortos. E os que não morreram e estresse, morreram afogados tentando escapar das grades que os prendiam. E nenhum deles estava ali por vontade própria. Foram conduzidos por alguém, algemados por alguém. Logo, nada mais correto em afirmar que os animais da Cobasi morreram por causa de alguém.
Não tem gerenciamento de crise de imagem que consiga reverter a imagem dos 38 animais mortos na Cobasi. Não tem desculpa. Simplesmente não tem. A burrada está feita e escrita com tinta seca. Nada vai apagar a infeliz decisão do gerente da Cobasi em não dar prioridade à vida, a vida que impulsiona os negócios da Cobasi, a alma da Cobasi, os lucros astronômicos da Cobasi. Computadores foram salvos e gaiolas foram colocadas em local seguro. Essa foi a resposta. Melhor ter calado a boca e partido a ajudar os mais de 6 mil animais que estão sem tutores em Canoas e Porto Alegre do que escrever tanta bobagem. É o mínimo que se espera.
Resgatando cães sarnentos da enchente do RS
Enquanto pessoas se arriscavam nas águas sujas do Guaíba – e até a pegar uma leptospirose por conta disso – para salvar cães sarnentos e vira-latas, a Cobasi, com uma loja bem localizada no interior de um shopping center, não foi capaz de agir com a agilidade necessária para salvar a alma de seus negócio: os animais.
A Cobasi precisa arcar com um plano astronômico para ajudar os animais resgatados da enchente. Não tem outra saída. É o preço de delegar tarefas vitais para a imagem e o bom funcionamento da empresa para pessoas que só pensam em receber salários e pagar contas sem ter os animais no coração.
Imperdoável, inaceitável, monstruoso.