As raças de cães da moda década 70 marcaram nossa infância. No entanto, os mascotes que fizeram a alegria de muita gente no passado estão cada dia mais raros de se ver por aí.
E quem não se lembra da famosa Lassie dos anos 1970? Não apenas ela, mas o Fox Paulistinha, Pequinês e o Pastor Alemão? Raças esquecidas mas estampadas nas fotos da infância de muito marmanjo por aí.
No caso da raça Collie, os cães chegavam nas famílias embalados pela beleza e dedicação da Lassie. A protagonista da série de TV ajudou a divulgar a raça em todo mundo. Dóceis e amorosas, principalmente com crianças, as Lassies envelheceram e morreram. Mas apesar das mais belas lembranças, a raça não foi reposta em nossa era. E por quê? Porque Collie é cachorro para pátio grande, animal para quem mora em casa, e quantos ainda têm o privilégio de ter um quintal inteiro para um mascote?
Seguindo essa mesma linha de raciocínio, depois da Priscila, da TV Colosso, alguém viu um Sheep Dog por aí?
Pois é.
Porque os cães daquele tempo sumiram do cenário nacional
Três fatores contribuem para que uma raça não permaneça mais do que uma década na memória – e nos lares – da população. Na maioria dos casos, a pelagem excessiva complica a vida para uma família dinâmica em que todos os integrantes trabalham muitas horas fora de casa.
E o que dizer do Dálmata? Eram 101 e hoje raramente se enxerga um.
Em primeiro lugar, tamanho, nesse caso, é documento. Ele dita as regras na hora de colocar um cachorro para viver dentro de casa. O segundo fator impeditivo, perdendo de perto para o quesito financeiro, é o espaço. Nos apartamentos de hoje, o morador tem de sair para dar espaço para o cachorro entrar. Isso até se vê depois de algum divórcio. O quarto item, porém menos evasivo, responsável pelo esquecimento são as telenovelas. As histórias diárias ajudam a promover determinadas raças que viram verdadeiras coqueluches por algum tempo. Além disso, o interesse se voltou para tamanho pequeno, o que entra em sintonia com os “apertamentos” de nosso tempo.
Por que gostamos tanto dos animais?
Quando pelo e tamanho se unem, as chances de uma família repetir um cachorro de raça da década de 70 diminuem. Com quase um metro de altura, o Dogue Alemão perdeu espaço na vida moderna. As pessoas de nossa era não se desfazem de seus cães em função do afeto. Mas sua cara e minuciosa manutenção pesam na hora de substituir o cão que morreu. E se for de raça tradicional, porém peluda e grande, perde espaço para o modernos cachorros de menos de dois quilos.
Outra questão é que, passados anos da “primeira leva” de animais puros, a popularização da raça faz com que entrem em cena os “gigolôs de cachorro”. As pessoas que se lançam na aventura de criá-los de forma irresponsável visando apenas lucro também fazem um belo estrago. Diferentemente dos criadores, esses oportunistas negligenciam qualidade estética e funcional dos exemplares. E genética selecionada sem a observância de alguns critérios gera filhotes menores e menos robusto. Ou seja, remotas lembranças do que eram características originais da raça. Aí entra mais um fator que desestimula a pessoa a levar para casa uma sombra do que foi o antigo mascote.
Outra vítima do esquecimento, o Pequinês – cachorrinho que vivia no colo de muita vovó – foi gradativamente substituído pelo poodle. Este, vejam só, era branco, fofinho e não soltava pelo, outro pecado que desbancou os peludinhos. E para acabar com a febre pelo Pequinês, na virada do século, os escuros Yorkshires conquistaram seu lugar. Logo depois, junto com os Labradores, os Lhasa Apsos começaram a pipocar. Mais recentemente, o Lulu da Pomerânia e o Bouvier Bernois têm cativado muita gente.
E levante a mão quem tem visto algum Dálmata, o Husky Siberiano, Setter Irlandês, Sharpei ou o preferido da atriz Bruna Lombardi, o Afghan Hound.
Algumas raças até podemos compreender o porquê de sua redução. Afinal, fica difícil um lugar para acomodar com conforto um Dogue Alemão em nosso dias. Mas o que dizer se até o toquinho do Chihuahua anda sumido?
Parece que no mundo cinófilo tudo também tem seu tempo. Para os próximos anos, o preferido da rainha Elisabeth, o Corgi, e o japonês Shiba Inu estão no páreo e concorrem às vedetes da vez.
Paralelo a isso, muita gente vem optando pelo animal sem raça uma vez que os cães de rua, além de doidos por um lar, se mostraram mais resistentes para as patologias. Além disso, são eternamente gratos por terem sido resgatados por uma família. A essas pessoas estendem o companheirismo e lealdade inerente à personalidade dos cães.
Para quem, assim como eu, viveu a infância com a Lassie do lado, resta a saudade que às vezes encontra consolo em fotos da internet. Um dia, talvez, nas esquinas de alguma praça eu ainda me depare com aquele pelo macio e abundante, lembranças de um tempo em que com ela apostava corrida ladeira abaixo de uma praça que nem existe mais. A brincadeira terminava sem dor nos meus joelhos nem mal jeito nas costas, maravilhosa lembrança da infância da dedada de 70 que só mora em meus pensamentos.